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  • Foto do escritorJose Dias

Duas décadas

Quem me conhece bem sabe que não sou propriamente adepto de futebol e que raramente sei o que se está a passar dentro do campo e muito menos acompanho o que se passa fora dele. Mas torço pelo Sporting. E torcer pelo Sporting significa gostar de ver o futebol acontecer, ter uma esperança tranquila no golo que tarda em aparecer, na vitória esquiva, no campeonato sempre longínquo no passado ou futuro. Ser do Sporting é viver sobretudo para além do presente. E isso faz com que o comezinho – a falta, a polémica, a jornada – se relativizem imediatamente.

Depois, para mim, o Sporting e o futebol representam uma infância muito bonita. O meu pai, portista, levava-me semana sim, semana não aos jogos da equipa de Juniores do Sporting. Lembro-me de ver um Futre sub-18 e de ouvir o meu pai e os amigos pronunciarem a sentença “este miúdo vai longe, pá”. Eu tinha uma bandeira – os cachecóis são um adereço relativamente recente – e uma almofada para suavizar a hora e meia sentada no cimento duro. À vinda, parava-se sempre numa cervejaria. Os adultos falavam e partilhavam a vida dura, o trabalho duro, os planos modestos. Foi uma escola de como se ser homem simples. Sem imposições, sem julgamentos. Eu estava só ali e era acarinhado por todos.

Por isso, cada conquista maior do Sporting campeão, a cada duas décadas, sabe muito bem, mas celebra-se desta forma tranquila de quem sabe que é um momento entre um passado e um futuro longínquos e desta forma discreta de quem sabe aceitar e celebrar o facto de que na vida perder é mais comum do que ganhar.



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